terça-feira, 29 de junho de 2010

amarrei o cachecol apertado no pescoço... contundia a minha pele, gritava algo audível, rouco, tudo é afônico quando se tem espasmos... não percebi que me matava... não queria que me matasse... mas era tudo afônico... tomei cuidado para não deixar restos que viessem a apodrecer... tudo deve se decompor em pequenos grãos, sem apodrecer, sem gritar, afônico, contundido... aquele outro se aproveita da minha fraqueza, da minha miséria... aquele outro... me emputece... escolheu me irritar, me debati, dei-lhe socos... choques que quebram o silêncio aos poucos... escolheu algo macio... e me matei com o cachecol... deixando o sangue fluir... e me impedir de me decompor... em pequenos grãos... como todas as outras vezes...
só a enxaqueca me lembra de meus atos... ela passa, eu passo, tudo se vai a dormir... aquele outro, só me deixa ser dormindo... durmo... me esqueço... faz frio, não sinto meus dedos... teatro... não vão me ver porque durmo... que se fodam...
ele sabe que o sono vai me imergir no meu amor...

sexta-feira, 25 de junho de 2010

de uma máquina, uma pedra e poças d’água

corta as laranjas com a faca que apontou grafite
pequenos diamantes, pequenos brilhos
calor de sol, não, frio
borra de café
corta os dedos com a faca que apontou grafite
perfume, velas acesas
calor de sol, não, café, não, cristais de areia
risca as paredes com a faca que cortou grafite, não
os dedos, não, o sol, risca o sol com pequenos brilhos frios, não
mortos, como borra de café, não, risca as veias com grafite, não, que a faca cortou,
os nós, a ressaca, não, foram comprimidos, violentados na parede, na superfície, na película de sua língua, dois pardais que haviam se formado da imbecilidade da idéia e lhe pousaram na face, escorrendo como lagrimas de um cuspe do Rosellini...
a criatura encaracolada, erótica, exalante, absolutamente ausente... que lhe cheirava a sexo como um anjo que comesse pão preto... que lhe molhava orgástica a excitação... só trazia o pensamento dos prédios, do que não existe, impotência em lamber sem comos...
ascendia 15 andares, dava mais um salto, ao paraíso nada que valesse mais a pena que seu cigarro, caía como uma pedra, uma fruta ou merda de pássaro
não
cortava laranjas com a faca que apontou grafite, riscava os gomos com resto de borra, sentia como cropófago comendo merda, sujeira, mas era só um idiota. se excitava com o cheiro dos entes encaracolados, molhados, brilhantes, que desfilavam no calor do sol...
não

estrada do engenho

a idéia permeou-me a mente
com todos os ruídos, com toda a música
com todas as pedras que balançam por sob as rodas
tu, que era nada, poesia
tu, era nada, era bela, qual em caracóis e rastros doces...
te arrastava, te jogava, te erguia, fluida, inconsciente
tu era imagem, tu que não existe...
teu nome, pouco me cabe... mas me cabe o dia
não tu, imagem, não tu, cheiro doce a gozo que subverte o meu domínio
mas idéia, tu que é todo abstrato, que não existe, tu idéia...
que me subverte da fala
que minha boca não é por si a fala, que é sentir, lamber, comer... não a ti... tu que não existe, que existisse não seria nada... tu é imagem, película, poesia... e vejo...
por todas as ruas das pedras que balançam...
o raciocínio faz do ser um monstro

segunda-feira, 21 de junho de 2010

cigarros de palha cabem à refumaça
melhor refumar cotocos de fumo que ópio
destitui a dignidade de se intoxicar
e restitui a mediocridade de mimetizar o Manoel