sábado, 29 de dezembro de 2007

Dos Americanos em seus seriados policiais (ou “Um convite ao anarquismo não estudado”).

Agora é madrugada de fim de ano... na TV um seriado sobre paladinos da justiça. Fim do mistério elucidado o reflexo da imagem do ideal: venda nos olhos, espada e balança, “no mercy to you” é o que se diz. Assassinato passional sem culpa, mito de Electra e Édipo, irmãos de sina (irmãos no caso). Acusados pré-fabricados, falta a agonia, o desespero, o trauma ou qualquer sinal de alma (aparecem todos plastificados, choro com retoques de blush não muito sensibilizante pra não dar trabalho de pensar ou de mudar de canal), assassinos com alma não dão sensação de justiça plena, não geram tanto prazer no descer da espada. Tudo fixado entre certo e errado, entre o conivente, o inocente e o culpado, mocinhos ganham no final. Apontados em público pelos corpos que carregam, medidos e pesados com a superficialidade objetiva da epiderme baleada. Condenados a forca em praça pública junto com a mediocridade de seus personagens, a morte numa cela sem debate, não há reflexão, não pensam o juiz, advogados, júri nos corpos que levam eles mesmos por seus julgamentos, seus padrões, suas normas e morais, seu dinheiro... sobretudo não pensam (devem aplicar, questionar é reservado a idealistas, teoristas e qualquer outros que não devam ser ouvidos).

No regime da cruz, defendem a cruz. Dalla croce, alla croce, per la croce (e tendo a cruz como valor absoluto), socialismo no molde nazista disfarçado, moralismo que data do Éden. Sobra apenas o pedaço rijo de madeira que, como uma corda de morte, precisa de um cadáver a ser exposto, precisa de um Judas, um lúcifer, um criminoso pra fazermos pagar nossos pecados, pra afirmar com a morte o instrumento da morte. Sem cruzamentos ficam dois tacos rijos e os pregos... “no mercy to you”. E é assim que funciona na ótica cega da estatua de mármore, que por não enxergar vê todos por igual, tem o bem e o mal na mão e não participar nem vai além e pune igualmente porquê não há leveza na lamina de uma espada. Fim de caso...


P.S.: Nisto está presente o conceito de justiça-punição, não de dialogo, reparo ou excomunhão. Também o do uso da força, da agressão permitida para punir a agressão não permitida. Nesse justo, a correção (punição) é a extirpação de certos direitos de cidadão o que no caso é a limitação ou perda do direito de liberdade ou vida (entre outros)... somos propriedade do estado, o estado é uma instituição de nos mesmos, somos propriedade de uma instituição de nos mesmos que nos comanda, romper com o estado não é nada mais que assumir a responsabilidade sobre si mesmo, deixando de ser escravo da criatura o criador.