segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Auto Retrato N° 1

Engraçado o fato
sereno, calado
de eu ser sempre incógnito
agradavelmente incógnito
amigavelmente encriptado
entre o minimalismo mudo
entre a transparência do corpo
do texto, do contexto...
como farpas de conteúdo secreto
como falas em grãos de confete
enchendo o ar de cores
dores, amores, vontades
inocentemente ignorados
meticulosamente recatados
subjetos subliminares
metades, pedaços, fragmentos
por si só completos
completamente incompreensíveis
sempre pouco, pouco demais
o suficiente, a verdade, o presente
quando não basta o mínimo
quando é necessário o mimo, o excesso
o externo, signo em objeto, adjeto
pintado eu fico, em retrato
enclausurado, encaixotado
lacrado um carneiro dentro de uma caixa

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Crônica Beatnik

Inicio de noite, cigarro de palha (vou passar a comprar deles se encontrar, lembram cheiro de café pronto), uma garrafa com uma mistura etílica de ervas e mel pra três... enfim, uma noite normal nos arredores da UFPE. Caso esse em que encontrei determinado personagem (sujeito com quem já tinha trocado meia dúzia de palavras) que tinha cigarros, portanto uma boa companhia pra minha carteira vazia, começamos a conversar. Como sempre (ou quase) o primeiro assunto é a tal política, e o próprio ambiente já era propício pra isso, falamos da Reforma (a Universitária). Meus companheiros de copo, que já tinham suas cores definidas (vermelho no caso), argumentavam os impasses, enquanto o de vicio, com certa destrutividade, denunciava a dependência ideológica a analises de terceiros (vermelhos também). Eu como curioso ignorante, observava e procurava, por vezes, esclarecer a mim mesmo com pequenas objeções e colocações.

Eis que vem a primeira ruptura da noite, um impasse na sistemática da análise da questão (e a abertura da sala das maçãs assuntos mais subjetivos): como, afinal, estávamos a ver a questão? A olhar fixamente em cada ponto ou a trazer estes tais pontos todos para um universo complexo, além da teoria deles mesmos? Em algum momento, não sei qual, começou a flutuar existencialismos, niilismos, anarquismos, relativismos e afins... um monte de bolhas a se espalhar pelo ambiente. O estado de total liberdade do ser humano, a mais cruel dádiva e o caráter evolucionista de deixar de ser bicho e passar a ser gente (uma involução se relativo à estabilidade, à conceitos de perfeição), esse era o tipo de assunto. Por essas trilhas chegamos ao abismo... ao total niilismo em um caráter universal. “Qual o próximo passo? Qual a atitude lógica?” eis a pergunta. “A morte imediata”... o nirvana, o deixar de ser, ou a morte no mínimo.

E como é fantástico estar imerso na sensação do vazio, no desmotivo, na lógica auto-destrutiva do suicídio desprovido de causas passionalmente infelizes, quando se pode transformar isso em matéria de dialogo, quando se pode desconstruir filosoficamente o mundo exterior e se colocar na dádiva/maldição da liberdade... é assim como saltitar entre pedras de penhasco de mãos dadas com a loucura, que tanto é libertadora quanto alienante.

Minutos mais tarde, já noutro pólo, com o ritmo mais lento já (uma hipoglicemia talvez?), se chegava a socialização de experiências sensoriais... o de sempre, melancolias e divagações surreais. Luzes, estrelas, frenesi biológico (adrenalina e afins). Em meio a esse papo de berseker viking me veio a mente uma dessas frases soltas, essas coisinhas que Best-sellers usam pra ficarem famosos e que a Veja usa para enfiar significados outros dentro de situações especificas. “A vida é um suborno, nos corrompe a vivê-la completamente pelo prazer de ser vivida. É esse o fato, não vivemos porque nos há motivos, sim porque nos é prazeroso.”... breves comentários. Continuou-se o assunto meio nórdico até que metade do grupo se dispersasse, após isso apenas diálogos estéticos.

Fim de noite foi conversando no telhado da reitoria... sem cigarros. Ninguém morreu.