segunda-feira, 29 de março de 2010

demônio do leite azedo

perguntei ao meu criado esta tarde que sentia... este tolo insolente que suspende meu corpo em um andor... “sinto-me mal com demasiada freqüência para sentir-me bem” me retruca “se o agrada, sinto-me mal definitivamente”... oras mas que manifestação a me por em estado de nervos... chamei-o bacilo! isto que ele é! um bacilo insolente... em outra hora lhe pergunto... que seria a causa essa de sua agonia? “pois sinto dores nas costas... e minha bile se põe como um inferno a cada meia hora” me retruca “o senhor, pois, tem estado a se revirar durante as caminhadas... deve ser o cheiro acre da cidade”... mas isso também a me por em estado de nervos... pois é um vadio! um Judas que tenta me subverter a dar-lhe folgas e regalias! Já não basta os subsídios que tem, a estada no chalé onde nem ele ou a família tem expensas além do que comem... age como um rato... de noite corre até a beira do pântano com seus fumos a cultivar um demônio nas narinas... e chora, cai como criança as margens do lodo imundo, já o vi, penso que pragueja com seu pranto a tudo, deve ser ateu inclusive... o pergunto no outro dia que fazia lá “são meus entes que me chamam” retruca “aqueles que me trouxeram ao mundo e outros desde seu esquecimento”... esse índio, esse criado que eu tenho... sua pele é suja como lama... parece branco, mas não me engana, há imundice metida nos seus pelos... esse criado... esse que eu tenho... é um algoz... letrado e escriba, vive a rabiscar quando não lhe repreendo... é odioso, vejo em seus olhos... é daqueles que nasceu junto com os bezerros e saiu de lá... ainda tem na memória como se mata um boi... vai me encontrar dormindo na cadeira de balanço e me matar enquanto durmo... fazer magia com meu sangue... meu criado... esse que eu tenho... ao fim do ano compro um carro a motor... mando matá-lo logo após em um domingo de missa... quando for curar sua lascívia... antes que me jogue numa vala... esse... esse que carrega meu andor... com seus olhos de perfídia...

sábado, 20 de março de 2010

tricô de poncho azul

gravei na minha pele um desenho que era teu
com talho de agulha e ferro quente me marquei de ti
no pulso, entre minhas linhas, acima, pelo braço e pelas mãos
acima, no pescoço, acima, nos dedos
nas pontas dos dedos entrando pelos ossos, entrando pelos nervos
e o ferro que me corre nas veias se formou em pedras na garganta nos olhos e estômago
cuspi e bebi sangue
gravei na parede um desenho que era teu
com pequenas linhas de dedos insone
o mofo e a borra do cinzeiro me fizeram as sombras
na imagem do teu choro que expia e cessa e esquece
na imagem do teu choro o meu a ferro forma pedras
cuspi e bebi a bile nauseada da minha ânsia que corria pelos olhos sem cessar nem esquecimentos
numa expiação que transborda e se mata em brasa fria
pra que não de todo morra e se erga
e se jogue novamente

hoje senti que tu se foi... o pensamento me enlouquece...

terça-feira, 9 de março de 2010

na noite vermelho e cinza

subir muito alto
subir, correr, transmutar em luz no infinito das estepes
cair, cair em si, cair delirante em si fora de si
enjôo e orgasmos
epiléptico de gozo em convulsão, convulsiona em enjôo, espasmo
da serpente farpada que me abraça e me fere os nervos
da serpente cruel e farpada que me sai das entranhas e arrasta meus dedos pela pele

ontem encontrei um pardal... ele me disse "vai-te quebrar as costas com o tempo"
sufoquei-o no estômago "antes disso um anjo de chumbo ascende aos céus com meus miolos"