domingo, 17 de abril de 2011

Fins...

Hoje resolvo não seguir a diante com este espaço. Sinto um tanto como a perder um objeto de estima, alguma coisa que já tenha se erguido a estado de ente lúcido. Sinto um tanto, também, pelo fato de que, não existindo mais aqui esse lugar, minhas motivações para tomar nota de letras e sentidos mingua. Creio que justo este estado de coisa intima minha, elevada a ente animado externo a mim, que me trazia certo conforto e vontade em colocar letras aqui. Acho justo, então, deixar esta carta, ou oferenda, como se presta homenagens ao solo ou à água ou a um pedaço de coisa elevada a ser. Como Stalker ao entrar na zona, reconfortado pelo cheiro à erva fresca. Resolvo não seguir, tanto porque não sendo concreta a natureza desse espaço a sua concretude faz pouco sentido, quanto não sendo concreta a minha natureza é frágil o sentido de se ter esse espaço concreto de manifestações de mim... e dessa fragilidade o sentido se erodiu até o estado de película extremamente fina de a pouco, quando por fim deixou de ser. Deixo esta carta, também, como um devaneio e um ultimo escrito aos que não me conhecem, que imagino não haja nenhum. Aos que me conhecem só uma frase ou duas sejam de importância. Este cheiro a erva fresca vai continuar a existir em mim e além de mim, visto que não é uma manifestação minha, então o ente que habita este espaço não estará findo, e encontro ele como parte de mim e parte além de mim em algum lugar desabitado. Deixo este espaço no momento que lhe tenho mais apreço e distanciamento.
Durante o tempo livre das próximas semanas dedicarei algum tempo a arquivar os escritos daqui procurar os botões de finda-lo ou guarda-lo definitivamente. Penso, também, em manuscrever a maior parte das coisas, que me agradam manuscritos, apesar de não fazer muita noção do que faria com eles. Creio junto com isto esvaece, também, o pato e os tons azuis...
A ti... um aceno na praia... inaudivel... fellini...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

bem-te-vís entardecidos

e como o próprio tempo a infância perdura
numa reanimação constante da foto languida do morto
como a pequena a temer o frio de sua palidez
o eu de infância vagueia em soliture no limbo abobadado de minhas costelas
e enquanto realizo mecânicamente o nada mediado e envolto em movimentos corpóreos
sinto a ânsia de saber do ente querido, como a pequena a temer o frio de sua palidez, que existe em solitude dentro de mim
e o saber que o ignoro, que minhas costelas são parte integra do nada mediado e envolto nos movimentos injustificados que contém o seu limbo
e ele, que já foi a mim a minha superfície, que possuia o estranhamento e a incompreensão... ele não médiado... ele me falou, a mim e a si mesmo, me disse da infelicidade anunciada no canto dos bem-te-vís e no mormaço doce da tarde em frente às flores de jambo...
antes de minha existência, ele que me era antes de mim, me contou das suas divinações de quando ainda não podia ter noção do que eram seus olhos, me fez ser ele depois dele
e pouco a pouco seu viver tornou limbo e meu viver ergueu-se em nada
todas as contradições ocorrem entre o nada e o viver
todas as contradições são a renimação languida da infância
dos pequenos animais não mediados
da percepção contínua da ventura e desventura que se tem em infância
a vida é divinada no parto em completude
e na morte em retrospecto

enquanto o sol era um ente gigante, o reflexo a cobre daquela pequena me bastava a tê-la e sê-la e fundir-me num idílio de sentidos...