quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Fantasma

Que faço eu dessa recorrente?
essa que não sinto e sei que tá
quiçá...
além do rio
dos barulhos noturnos
torna na subida da maré...
eu, além
um dia morador do rio, um dia corrente
de azul agora verde
não de folha, musgo, lagarta
doença, dengue
e de esperança fez-se poça que não anda...
mãos... objetos de poutergeist...
e do corpo...
coagula e corre lento
formam pedras nos rins
que não sinto e sei que ta
chumbo... entra pela pele e cega
faz-se necessário ao peso do tom
empresta tristeza de ser chumbo
muda as coisas, tira seus sons
não... ...
coisas que não sinto... não-coisas, cor...
hoje é tudo escombro de navio antigo...

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Memórias de Paris

Paris e alguma fumaça
estrangeiro, um amigo ou dois
não falava bem a sua língua (não falo ainda)
tinha olhos de sono...
tínhamos todos uma certa nudez
sentia frio
não lembro mais de muito...
você apareceu por algum motivo
frio, sono, amanhecer
seu francês fazia sentido
te coloquei num papel... dormiu...
capilaridade, silêncio, vento
alguns dias, não foram muitos
fazia frio

sábado, 3 de janeiro de 2009

Pensamentos de pato

Poesia...
que é poesia?
como lhe chamo?
como lhe explico?
como lhe digo?
repito o que não o é
rima não é poesia
(e o é)
medida não é poesia
(e o é)
plástica não é poesia
(e o é)
práxis não é poesia
(e o é)
pessoa não é poesia
(e o é)
anjos não é poesia
(e o é)
amor não é poesia
(e o é)
repito que faz poesia
tempo, prosa, academia, dessaber, filosofia, pele, imagem, linguagem, cachaça, revolver, seca, fome, vomito, bile, galinha, clichê... que faz poesia
Pergunto, meu bem, que é poesia?
poesia é olhar-se a si mesmo nos olhos
mas espelho não é poesia... o é?
nem isso eu sei...

Memória no 1 (ou “Da falta do que fazer”)

Fui de ser criança
fui de ser pagão
a mim mesmo a cantar como deus
cri-me deus, eis-me deus
eis-me deus como galho balançando
eis a fúria inseticida sobre Gomorra
e tornando eterno os botões-de-rosa faraós
ressurrecto o corpo do sétimo dia de cama
em infinita misericórdia da pouca memória
desconhecendo o ser do frio
o ser do não ser
o ser em si...
descobri-me deus e por último ato desfiz-me
(pura vaidade do poder)
quem dera tivesse me feito ovo