domingo, 26 de abril de 2009

Cinzas de canela

o sol brilha e seu brilho lacera
eu, enquanto corpo pulsante, me solidifico
eu, enquanto calor pulsante, me intensifico
e então o corpo, mais ferro, cimento
e então o calor, mais diesel e gasolina
pedidos, demandas, fome
imperativos
alimente seu ser ativo, diz
agressivo, dominante
tenha sentido!, diz
militante
milite
...
eu, enquanto ausência indefinida, paraliso
e então a incerteza e o indesejo
de ferrocimentodieselgasolina
e de qualquer outra comida
em choque com o sangue bruto ou sublime
coagula...
consigo ver tudo (quase tudo)
consigo dizer tudo (quase tudo)
pouco ou nada faz sentido...
a ação é bruta
a palavra é bruta
e isso também do parado e silêncio...
recuso... recuso tudo
me projeto o caos
e projeções não existem
e existe
e existo
não posso inexistir
não quero
e o quero
mas não quero, enfim
e que faço, meu amor, me diz?
faço isso
termina o papel
cesso...

Um comentário:

Tulipa.. disse...

uma frase de garcia marquez apareceu hoje na minha tarde, querido... dentro de um livro esquecido de tempo...ficou ela no resto inteiro do meu dia, parecia esquecida do contexto...perdida entre o amarelado daquelas páginas todas como se fosse ela uma só palavra solta ..
e ficou dentro de mim aconchegada... acompanhada por cheiros de maracujá..
queria te contar isso
e também que amanheceu bergamotas e então pude ter vestígios de inverno...

sinto tua falta..