Guardo em mim o vão de todas as coisas. A tranca da porta, o trinco da janela, um olho de vidro... a fragilidade silenciosa que emudece oca atrás da camada da superfície (uma casca de ovo que forma a imagem das coisas).
Guardo em mim todas as coisas. O fluxo de tinta em minha pele, restos mortos de algodão, um anel (dois na verdade).Guardo, são coisas vãs, inúteis... sobretudo ausência. As coloco longe da poeira e da ferrugem. A imagem, as coisas, quando o mundo inteiro se deteriorar as terei guardadas, vazias, inutilizadas, imersas na sua expressão plena de humanidade. Quando o mundo se deteriorar... sim, não falta muito tempo. Eu terei meu museu de almas... terei, também, a certeza de que fiquei louco, vou achar a sanidade exposta, sua imagem, presente em sua ausência.
Guardo de todas as coisas o vão, faço em mim a sua casa, guardo a sua ausência até a noite chegar e o tempo parar, então estarei morto. Liberto do que se diz corpo estarei presente em todo lugar, presente na ausência com que construí minha casa.
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