quinta-feira, 10 de abril de 2008

Rato

Confunde na noite seu corpo
pedaço sombra que lhe toma parte
restiço do seu pouco espaço
trazendo o asco de sua raça
estigma, peste noturna
nos dias que lhe resta de forma
rato morto, gabiru
não lhe cabe o odor de sangue
não lhe cabe a atenção dos carros
apenas lhe cabe o que lhe há de fúnebre
o preto do piche da rua, velório
e o cheiro podre que trará os dias
terá em morte o que teve em vida
asco...
irão passar crentes, anjos
terão asco e irão embora
fugindo do nojo que lhe acentua a morte

farei de ti, querido rato, um mártir casual
de tua inanidade, de teu cadáver repulsivo
signo divino
e quando de mim se apagar tua lembrança
em mim estará vivo, estiveste em minha história
em tua morte todo romance que pode ter um rato...

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