sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

tarde e cigarros na esquina

me deprime o cheiro do capim cortado à máquina
me deprime toda essa morte, toda essa merda e essa porcaria e essas máquinas
e o cheiro, o cheiro me invade como um animal
começo a correr em campos em meia luz da manhã nascendo
quadrúpede, sem saber da vida ou de mim ou do que virá
onde ir? onde ir? que fazer? que ser?
e o cheiro do capim cortado a galope
e toda essa morte, essa merda, essa vida...
com a ânsia latente e o desejo contido
e o desejo contido violentamente por uma besta, um golpe que resvala no sangue e se entranha nos intestinos abrindo talhos na alma pra que se sinta um corpo...
e essa ânsia e essa vontade e esse impulso de não ser, não ser um corpo, não ser um tempo, não ser a vida e a decrepitude da vida e fugir, fugir prum campo em meia luz da manhã, longe de toda essa morte, essa merda, essa porcaria...
num gozo cheio de cheiros doces e macios que cai à morte e exaure os músculos e mói a carne e os ossos e as entranhas deixando jogado imóvel e dilacerado o corpo pra que a alma e o amor e o sexo possam evaporar sublimes e encontrar um ao outro mortos e além da vida...

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