de um devaneio noturno o teto desaba em chuva
algum ser que me povoa aflora em pequenas erupções
“pelos chifres deve ser um fauno”, diz algum ser
silêncio... digo àlgum ser, em pequenas erupções
“começa cheirar a musgo”, diz algum ser
me viro... digo àlgum ser, tomando atenção ao cheiro da sala
o teto desaba em chuva, um devaneio toca os pingos em melodias fantásticas
é noite do meu amor... assim como foi o dia e será de madrugada
é noite da estrela que me levou, lhe ofereço meu sangue frio e meu corpo inerte
“ele chegou, anda quase cego”, diz algum ser, como uma mácula às minhas costas
vejo sua face e as lagartas que lhe comem o tronco dependuradas em casulos
os pingos tocam os fios de seda em acordes azuis, a cor da sala se dissolve no chão
vejo sua face e o que ela me revela, em pequenas erupções
é noite, uma renda vermelha presa a liga, meu gozo escorre misturado a sons doces em coxas brancas, insípido... some
me viro, tomando atenção ao cheiro da sala, um gato que vomita as cadeiras da mesa de jantar
meu corpo inala um gosto podre e azedo
silêncio... e os olhos vermelhos de insônia, quase cegos, não me reconheço
enquanto a chuva ascende à cal do teto
cristalizando em manchas de mofo
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