sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Caleidoscópio

sonhei um orfanato
era criança
todos eram os meus
nenhum era
noite molhada de chuva em dia de cometa
ultimo dia da era, derretendo, se tornando macio e lamacento
uma semente vermelha cintilante que virá
a orfandade uma prisão... dividíamos cigarros, as crianças, tudo era meu, das crianças, nada era
meu corpo se perdia na insignificância de não ter o que perder
e meu corpo se fazia livre por comungar da miséria de tudo que havia
uma irmã se tinha ido embora numa tristeza de outono
invadimos seu quarto, escondido atrás das voltas da escada em caracol
uma luneta de copos de vidro e uma janela a se olhar a lua
segredo que calava em uma criança, na irmã, em ninguém
e todas as coisas místicas que se escondiam em cinzar de incenso
e o cometa
de encontro a noite derretida como viesse copular
como tivesse passado por ali o Caio, que tivesse ido embora numa tarde de outono e esquecido seu tarot, arcanos maiores do Crowley, dentro de uma gaveta, com pequenas coisas ao redor
realizei pouco antes de acordar, aquele quarto era meu, e o cometa e a chuva, a irmã de outono, as cinzas do Caio, a criança, a miséria virtuosa
senti por um momento... e te encontrei por lá
em qualquer coisa que faça parte de um eu que existe
onde me encontro
ou onde deliro

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