segunda-feira, 29 de outubro de 2007

À você doce amigo da terra distante.
Tu mereces receber todas as bençãos do Sol e da Lua!
Sentir as saudações do vento em teu ouvido: meu sussuro de saudade!
Saudade sinto de ti...
Saudade de não saber a entoação de suas palavras...

Saudade dos escritos de consolo.
Saudade do grito de esperança, que é mudo. (não escuto!)
Saudade do desconhecido...
Saudade, saudade, saudade...
Um brinde faço a ti amigo! E que um dia a terra do nunca torne-se sempre.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

VII - Inerte (ou A semente)

Hei de ser semente
fui árvore, fruto
agora morto me calo
e ao chão viro parte
e não há sangue,
seiva pra que estanque
pra que manche
aglutine na areia
pra que corra na veia
dormente, se ainda as tenho.
Durmo, dorme o mundo
percebo a mim não percebendo
o mundo
transcendo, espóro
sou agora, imaginário e vejo
de lá, imaginário
olho-me seco a ver-me
no espelho, ver-me
seco
E volto a mim mesmo
de onde não saio por estar
sedado de falta
de sangue, seiva, pra que
estanque, corra, ande
na veia de árvore, mas
sou semente, latente
e esqueço, na verdade
nem penso, no espelho
só penso acima de além
do espelho
canto onde não estou
semente, latente, inerte
imaginar apenas não é estar (ou é)
e se não é como pensar?
se sementes se pensa
em cantos onde não estão.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

VI – O Juiz

Sim, é fato. Chutei a pedra sem motivo... mas porque não o faria? Estava ali parada, mudei-a de lugar com um solavanco do meu pé. “Ora, pois não devia chutar coisas por aí... imagine só se todos achassem de mudar as coisas de lugar sem ter um ‘pra quê’?” me dizes. E cá eu retruco: não me desse motivo pra deixá-la estática, apresento aqui o meu argumento, fiz por vontade. Temos então um embate, te dou uma razão arbitrária e me apresentas uma conduta sem lógica. “Mas claro que há uma lógica, se todos começássemos a solavancar seixos por aí seria um caos, teríamos as ruas todas cheias de pedregulhos”. E as ruas já não são cheias disso meu bem? Se não houvessem pedras nas ruas não haveria o que chutar... devo então deixar de minhas arbitrariedades pra preservar a ordem de ruas pedregosas que funcionam bem na sua pedregosidade diária? Não creio... construíram as ruas por pura vontade... e com isso atrapalharam a ordem dos formigueiros que haviam por lá, por exemplo. Não seria justo se eu não pudesse atrapalhar a ordem da rua com uma pequena pedra.

Mas vá... vá que já está tarde. E não quero, eu, atrapalhar a educação de suas condutas com pensamentos sobre coisas pequenas como pedras. Imagine só se todos parássemos pra divagar sem limites... seria uma falta de ordem não é verdade?

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Figurante em cena

Existe um palco, um público á espera, papai, mamãe, cachorro, papagaio... você chamou todos para sua estréia e só quem veio foi sua mãe, as outras quinze pessoas espaçadas num teatro que cabe quinhentas são os parentes dos personagens principais.
O diretor já deu diversos sermões, várias reclamações (em você, é claro, uma simples árvore no fundo do cenário, que faz "BU" no final da cena e uma múmia horrorosa ao fim da peça que sai se desenrolando até sair de cena, ou seja, você só aparece derante 5 minutos num espetáculo de quinta para ganhar 50 reais), ele reclama por tudo, até parece quie ele iria querer interpretar num droga dessas!
Você é apenas um figurante de uma peça medíocre que ganha uma merreca, mas seu sonho mesmo era ser açougueiro, cortar com um facão aquelas carnes mortas... mas você é uma árvore e uma múmia.
A cortina se abre e você já está no palco, parado e verde (pense pelo menos nos 50 reais), poucos aplausos. Quando chega a hora da sua fala você esquece (mas era só um "BU", só um "BU" tão ensaiado!).
Foi assim que o figurante entrou em cena. Agora você só tenta emprego como aprendiz de açougueiro.

Menina Barla

sábado, 6 de outubro de 2007

Crítica por pura chatice

Reparando em meia dúzia de ícones pop, me parece que há uma ambigüidade curiosa no discurso da TV e afins. Produtos de entretenimento “vazio” parecem, espantosamente, ser mais críticos que a maioria das produções com fundo moral, “educativas” e etc. (isso se tratando de pop jovem e/ou infantil)... talvez por colocarem os espectadores dentro do seu ridículo. É o sarcasmo barato, mas lacerante, que uma vinheta da MTV tem (voluntariamente ou não) ao mostrar a alienação causada pelo seu próprio logo, só que de uma forma quase que dadaísta, transformando a mensagem em pura imagem desprovida de significado... ou quando um episódio do Bob Esponja mostra a perfeita idiotice submarina num cubo cheio de furos sem lembrar ao corpo letárgico na frente da TV que a esponja na verdade se refere a ele mesmo (ironia explorada por Chaplin por sinal).

A conclusão é que temos um mundo idiota... se até o pop (que é reflexo da população) consegue estabelecer diálogos críticos (e se valhe da idiotice geral pra vende-los) sem ser percebido, então precisamos avisar aos nossos caros semelhantes quando estamos escarrando em suas faces e ainda alertá-los que isso é uma ofensa (como já fazem os programas matinais pseudo-jornalístcos familiares).